terça-feira, 19 de abril de 2011

A Estrutura da narrativa II - Bremond


Análise estrutural da narrativa
R. Barthes e outros
Editora Vozes, 1972

A lógica dos possíveis narrativos (p.110-135)
Claude Bremond

Dos setores: a) análise das técnicas e b) leis do universo narrado. Mas b pode: 1) respeitar constrições lógicas sob pena de ininteligibilidade e 2) respeitar as convenções de seu universo particular (cultura, época, gênero...). Para as transformações: primeiro) unidade de base é a função (aplicada às ações); segundo) a sequência elementar. Três funções agrupadas dão na sequência elementar, correspondentes a três fases de todo processo: a) uma função para abrir a possibilidade do processo; b) a ação e c) resultado; terceiro) nenhuma dessas funções necessita a que a segue na sequência. O narrador é livre para fazê-las passar à ação ou mantê-las na virtualidade. Ele pode atuaLizar a conduta sempre que desejar, mesmo estiver entre suas opções o resultado final da narrativa; quarto) as sequências elementares se combinam nas sequências complexas: a) encadeamento sucessivo (funções distintas num mesmo papel: malfeito a cometer>feito retribuído; b) o enclave (inclui no processo um outro: malfeito cometido=feito a retribuir>feito retribuído>dano infligido); c) o emparelhamento (duas sequências sob duas perpectivas: dano a infligir vs malfeito a cometer>dano infligido vs malfeito cometido = feito a retribuir). O Ciclo narrativo: "toda narrativa consiste em um discurso integrando uma sucessoão de acontecimentos de interesse humano na unidade de uma mesma ação". Categorias: processos de degradação (o erro; a obrigação; o sacrifício; a agressão sofrida; o castigo) e de melhoramento (realização da tarefa; intervenção do aliado; eliminação do adversário; negociação; retribuições (recompensa e vingança)): a) por junções sucessivas; b) por enclave e c) por emparelhamento. "Cada agente é seu próprio herói. Seus parceiros se qualificam na sua perspectiva como aliados, adversários, etc. Estas qualificações se invertem quando se passa de perspectiva para outra. Longe, pois, de construir a estrutura da narrativa em função de um ponto de vista privilegiado o do 'herói' ou do narrador - os modelos que elaboramos integram na unidade de um mesmo esquema a pluralidade das perspectivas próprias dos diversos agentes". (...) "Este enquadramento dos tipos narrativos é ao mesmo tempo um estruturação das condutas humanas agentes e pacientes. Elas fornecem ao narrador o modelo e a matéria de um devir organizado que lhe é indispensável e que seria incapaz de encontrar em outro lugar. Desejada ou temida, seu fim comanda um encadeamento de ações que se sucedem, se hierarquizam, se dicotomizam segundo uma ordem intangível. Quando o homem, na experiência real, combina um plano, explora na imaginação dos desenvolvimentos possíveis de uma situação, reflete sobre a marcha da ação empreendida, rememora as fases do acontecimento passado, ele narra para si mesmo as primeiras narrativas que poderíamos conceber. Inversamente, o narrador que quer ordenar a sucessão cronológica dos acontecimentos que relata, dar-lhes uma significação, não tem outro recurso a não ser ligá-los na unidade de uma conduta orientada em direção a um fim".

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