terça-feira, 24 de maio de 2011

Frankenstein XV - Capítulos 17-24 (Final)

Frankenstein
Mary Shelley
L&PM, 2010

Capítulos 17-24
 Depois do denso encontro entre Frankenstein e sua criatura consciente (cap.11-16), dominado pela fala do anjo caído, Victor retorna a Genebra firme na disposição de cumprir a palavra empenhada ao seu outro, por ele abandonado. Fato importante este de ele ter sido convencido pela sua criatura sobre a precariedade de sua criação. De resto reveladora de sua própria incompletude. O que deve ter "comovido" Frankenstein pode ter sido a constatação de que sua criatura era maior que ele mesmo. Não no seu aspecto físico, somente (mesmo isso já sendo revelador). A parte do "eu" voltado para dentro (que é Victor) criou um duplo enorme, pois queria mais reconhecimento, criando um ser maior fisicamente. A questão que o ser criado (o "eu" voltado para fora) era maior também no sentido de ser saído mais humano, mais destinado ao encontro com o outro. Isso já estava sinalizado nas palavras de Walton, em suas cartas à irmã: a necessidade e a falta que lhe fazia a presença de um amigo. É bom lembrar que o monstro leu O Paraíso perdido como se fossem "histórias reais". Ele era um Adão abandonado, sem consolo de companhia de iguais, de que sentia falta. Frankenstein não cumpre sua promessa de fabricar uma companheira para a sua criatura e esta se volta intensamente para destruir todas as suas boas companhias de aventura na terra. Assim morrem Clerval, Elisabeth e toda a sua família. As imagens opostas de "mar" e "fogueira" situadas no Ártico e colocadas no final da narrativa sinaliza o corte de realização da aventura do moderno Prometeu, que se reafirma na frustrada viagem de Robert Walton.
"Nenhum escritor romântico usou o arquétipo de Prometeu sem um completo conhecimento de suas equívocas potencialidades. O Prometeu dos antigos tem sido, na maior parte, uma figura espiritualmente reepreensível, se bem que frequentemente simpática, tanto em termos de sua dramática situação quanto de sua íntima aliança com o homem contra os deuses. Porém esta aliança foi ruinosa para homem na maioria das versões do mito, e a benevolência do Titã mal foi suficiente para recompensar a alienação do homem do céu, donde ele o havia trazido. Ambos os lados do Titanismo são evidentes nas primitivas referências crtistãs à estória. O mesmo Prometeu que é considerado como semelhante ao Cristo crucificado é também encarado como uma espécie de Lúcifer, filho da luz justamente expulso do céu que ele ofendeu", H. Bloom, no Posfácio.
O monstro queria amar e ser amado, mas seu criador não sabia o que isso era.

Imagem: Google images

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