segunda-feira, 25 de julho de 2011

O Narrador é um grande problema


Riobaldo é um desgraçado mentiroso que não tem o que fazer, sem contar que nasceu pra sacanear. Lembrem-se: ele conta é sentado na varanda, estirado na rede do “bem-bão do Urucuia”, rico de terras herdadas do seu (dele) Padrin Selorico (pai?). Vou provar apenas num trecho (refiro-me sempre à 19ª edição da Nova Fronteira; então: p.26) e vou me intrometendo, comentando entre colchetes as dores da revolta: “De primeiro [quer dizer, não agora, que vive outra vida], eu fazia e mexia e pensar não pensava [mentira, pensava errado? Mas pensava]. Não possuía os prazos. Vivi puxando difícil de difícel, peixe vivo no moquém: quem mói no asp‟ro, não fantaseia [o povo todo tá fora, por causa que o que faz na vida, o povo, é puxar “difícil de difícel”, moendo]. Mas, agora, feita a folga que me vem [e feita a mangação sem tamanho], e sem pequenos desassossegos [nem grandes, evidentemente], estou de range rede [o “bem-bão já referido, com tempo de sobra pra não fazer nada]. E me inventei [achou serviço] nesse gosto [serviço e gosto], de especular ideia” (ROSA, 2001, p.26). Não satisfeito, ainda tripudia, um tantinho depois (p.30): “Sou só um sertanejo, nessas altas ideias navego mal. Sou muito pobre coitado”. Sinceramente, não sei se eu mereço o título de “pobre coitado” por ter escolhido para estudar logo esse, no meio de tantos, mas tantos livros...

Imagem: clubedolivro.worpress.com

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