quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Era espaço, sempre


Não tinha percebido. "Ando meio desligado", talvez bem como disse um dia Rita Lee, a bela tradução. Veja agora: toda ou quase toda a teminologia criada em torno dos todo-poderosos estudos sobre foco narrativo, ponto de vista na ficção, ou seja lá qual nome se dê, quase toda ela gira em torno de aspectos espaciais, ou se utilizam de termos espaciais, sempre tomados de forma abstrata. Vou começar pela terminologia do Sr. Norman Friedman, mas poderia ser outro. A sua teoria gira em torno de duas concepções contíguas: proximidade e distanciamento. Não preciso dizer: próximo e longe são possibilidades de posições no espaço em relação a um ponto neste mesmo espaço. Se o narrador se coloca numa posição mais próxima das coisas relatadas, podemos relacionar conceitos como tendências ao sumário, ao narrar, ao contar, à declaração, à exposição, ao explícito, à ideia; ao contrário, quanto mais longe se coloca dos fatos, o que Friedman quer dizer é que o narrador está mais disposto a produzir a cena, a imitar, a mostrar, interferir, apresentar, a dramatizar, a produzir o implícito e a imagem. Nas famosas "visões" de Jean Pouillon, é possível reconhecer as mesmas relações: Pouillon, na sua teoria das visões na narrativa, fala de algumas categorias de visão: visão com, visão por trás, visão de fora. Como se vê, novamente o problema é resolvido numa equação que envolve a distância e posição do narrador em relação aos fatos. Sempre o espaço.

Imagem: Google images, tela de Miró.

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