terça-feira, 2 de agosto de 2011

Folhetim III

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O episódio do incêndio teria acontecido muito tempo depois, talvez quinze anos. Eu não vi, me contaram: “Queimou tudo. O que não era essencialmente a casa foi destruído. Mesmo alguns pedaços dela sofreram avarias: as calçadas laterais, com assoalho feito com madeira de butiti; partes pequenas das paredes estragaram... Ninguém, nenhum de nós foi ferido”. Devia ter dormido profundamente, pois não percebi absolutamente nada. Olhei em volta e estavam todos ali. Aquela gente que já conhecia a ponto de me ser familiar, aquele velho contando uma história sem fim àquele moço paciente...
Foi quando alguém se aproximou de mim e me explicou o caso do fogo que atingiu e danificou a casa e, no que para ele era uma oferta, perguntou se eu não queria ser o dono da casa a partir daquele dia. “Ela precisa de reformas, uma limpeza, mas ainda está muito boa, se quiser repará-la, é sua”.  Na verdade eu já me sentia em casa ali, como se a casa tivesse sido minha desde a primeira vez em que ali entrei, e devo dizer que esse sentimento eu o percebia nos outros moradores. Mesmo assim apertei a mão do colega, como que fechando um negócio. Em menos de uma semana, com a ajuda de uma ou duas pessoas, reformei toda a casa, que ficou um tanto diferente na aparência (talvez menor), mas era a mesma casa de sempre. Principalmente o que ela significava para mim, nisso não mudou nada.
O que mudou muito a partir de então foi a minha forma de me relacionar com a casa e seus moradores. Passei a estudá-la.

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