sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Folhetim IV

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Ao começar a estudar a casa, sempre a regar, diariamente, aquela rosa, minha primeira descoberta foi a de que eu não estava sozinho nesse esforço. Isso me trouxe imediatamente um ânimo: eu tinha companhia com quem compartilhar o que fosse desenvolvendo. Depois, logo depois, percebi que, na verdade, estava diante de uma dificuldade. A casa era já uma espécie de esfinge a desafiar quem, como eu, decidisse saber o que ela era. Quanto pior por causa das inúmeras afirmações que se faziam sobre ela. Era como numa escavação em que se fossem descobrindo uma cidade sobre outra, que havia sido construída sobre outra e outra... Várias camadas de tinta na parede, mas isso para as pessoas que estudavam o lugar; a casa, propriamente, podia se dizer que ninguém sabia o que era.

Os estudiosos, acho que não perceberam a rosa. Antes, preocuparam-se com a arquitetura, físicamente falando: chão, paredes, formas dos telhados. Outros dirigiram seus estudos aos aspectos da linguagem dos moradores, seu jeito de falar, sua sintaxe, seu léxico. Havia ainda aqueles que buscavam as origens da construção, numa espécie de estudo de genética, sugerindo linhas de parentesco de suas formas com outras formas, comparando, comparando... Decidi-me pelo mistério: aceitar a casa e a rosa como elas me surpreenderam um dia.

Essa decisão me levou imediatamente ao velho que contava aquela história interminável àquele moço paciente à sua frente.

2 comentários:

  1. me lembrou o borges...
    gostei das imagens..
    bom texto.

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  2. Jesus, Maria, José!!
    Menos, Pam, por favor. Demorei muito a ler Borges, que achava muito inglês e... Argentino. Hoje leio sempre. Esse texto que estou publicando aos pedaços, no entanto, conta algo da minha relação com outro texto, digo, outra "casa". De qualquer forma, obrigado: palavras minhas fazerem alguém se lembrar de Borges é fato que chega a assustar a gente.
    Abraço.
    Gilson.

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