terça-feira, 9 de agosto de 2011

Folhetim VI

6

O Minotauro era o mundo inventado. A partir desse momento não via outro jeito que não fosse refazer todo o meu raciocínio. E comecei logo. Já sabia que aquele lugar era uma invenção daquele velho. Poderia chamá-lo também de mentira, ficção, sonho, ou ainda outros nomes, mas não era isso que importava. O fato era que o mundo criado pelas palavras daquele velho, com aquela sua história interminável, sem tempo, havia sido aceito por mim, que o reconheci como uma objetividade. Algo que existia. Nesse momento olhei para a roseira e ela era. Eu não estava sonhando: eu e aquela roseira, pelo menos, éramos reais. Pensei naquele momento que havia encontrado a primeira chave: eu deveria incorporar o sonho como uma das dimensões da realidade. A imaginação daquele velho mentiroso estava me convencendo disso.

Ali, com a certeza que se pode ter, a dona da casa não era a razão. Pelo menos como sonha a nossa vã filosofia. A imaginação morava ali e não era louca. Mentiras... Ora, mentiras... Depois, seguindo no caminho – pensei ou senti – eu deveria atravessar todo aquele emaranhado de palavras para, também eu, ser capaz de realizar o trabalho de mentir, inventar, refazer o percurso da história, e, para isso, eu só tinha as palavras daquele que a contava. Então, novo susto. Desconfiei e vi a possibilidade de que aquele senhor que aparentemente tinha inventado aquela casa do tamanho do mundo, também ele poderia muito bem ser parte da invenção.

Por quê? Por causa do moço à sua frente, tomando aquelas algumas muitas notas. Aquele velho não existia: também era inventado e foi criado pelo moço calado que fingia anotar o conto do outro.

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