quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Ideologia


Difícil demais dialogar. Eis um princípio meu. Talvez seja  um traço de família e, se fosse, juro que me sentiria mais apaziguado. Muito mais difícil é tentar dialogar com quem já tem todas as respostas para todas as coisas que quer discutir. Essas pessoas simulam a troca, armam todo um circo para que tudo pareça o mais democrático possível, mas eis que nenhuma ideia “estranha” pode se sustentar ali. O próprio discurso é negado. O autoritário ideológico não percebe, na sua mais douta ignorância, que se nega quando fala. Que se altera diante da cogitação inesperada. O bom de tudo isso é que eu não tenho medo e, o pior, é que eu fico com raiva, embruteço nos argumentos. Não na hora. Na hora me calo e finjo não mais ouvir nenhuma palavra. Abandono a fala toda poderosa do dono do saber. Abandono a conversa a ponto de ser chamado para o debate e não falar. Insisto no silêncio pesado, com o objetivo calculado de que ele seja sentido. E não cedo, não arredo pé do silêncio obsequioso diante de quem tem certezas, de quem acredita que sabe todas as respostas. A minha mensagem para essas pessoas é bem simples: não contracenar. De mim elas não se servirão. Eu, sim, me servirei delas para aproveitar o que eu achar no lixo. Eu sei que posso achar uma rosa no monte de lixo. Eu não quero respostas prontas, quero as minhas construídas. As que me sirvam. Não quero a certeza; quero a dúvida que possa me iluminar. É possível que eu tenha estado este tempo todo a falar de mim mesmo. Não duvido. Duvido, sim, metodologicamente.

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