quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Duas chaves

 Para o caso de São João del Rei, penso que há duas chaves imediatas para a compreensão de seu desenvolvimento histórico. Digo isso muito preliminarmente, para confirmações ou negações depois. A primeira é a posição dos paulistas no jogo mercantil da colônia: eles não estavam inseridos, nos séculos XVI e XVII na que se acostumou chamar de "máquina mercante", sempre constituída no triangular comércio entre a Europa (em que estiveram envolvidos aqui, principalmente, portugueses, holandeses e espanhóis), a África (especialmente Angola, Guiné e Congo) e as terras "descobertas". Tratava-se de um circuito fechado: num primeiro momento, madeira do Brasil, escravos da África e alimentos da Europa; depois o primeiro elemento se altera, com o início da produção do açúcar no Brasil. As tentativas dos paulistas de participar desse negócio, dominado por Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, sempre foram frustradas. Essa máquina mercante operava às margens do Brasil, pelas facilidades daí decorrentes. Aos paulistas não restaram senão "subir a serra", em busca de meio de vida. Inegável que fizeram isso com o que o professor Antonio Candido vai chamar de "invasão ecológica". Tratava-se de fato de uma enorme agressão ao meio natural, com impactos significativos na vida dos habitantes nativos, assim como da paisagem local. As bandeiras e as entradas representaram uma agressão, quase sob qualquer aspecto que se olhe. A outra chave está na luta feroz travada entre os paulistas e as missões jesuítas, quanto a administração dos índios. Derrotados os missionários da Companhia de Jesus, os paulistas puderem empreender a abertura de seu caminho de caminho de colonização, quase como uma segunda voz portuguesa na América: uma colonização de povoamento dentro de um projeto colonial de exploração. No início do século XVIII ocorrem as primeiras descobertas de ouro na região central de Minas Gerais, o que evidentemente desperta grande interessa por parte da Coroa portuguesa. O primeiro quartel do século XVIII pode ser lido como uma grande corrida para o interior do Brasil, com baianos, pernambucanos e outros para ali se dirigindo para as lavras. A questão é que os paulistas ali já estavam, e com suas mínimas estruturas já funcionando.  A Coroa tenta impor a administração das geral minas, para as quais os paulistas requeriam prioridade por terem chegado ali primeiro e por terem sido muitos esforços e despesas que deveriam ser compensadas. Esse conflito inicial está no centro da Guerra dos Emboadas, em que os portugueses se juntam a baianos e mineiros locais para restringir os privilégios paulistas, e depois expulsá-los definitivamente da região de Vila Rica (Ouro Preto) e Minas do Carmo (Mariana). Primeiro, espalharam-se por Matosinhos, Santa Cruz e Tiradentes. E depois em São João del Rei (Novo Arraial do Rio das Mortes). O decreto da Coroa era taxativo, porém: deveriam sair, os que restaram vivos, da região aurífera conhecida. E se retiraram, ou de volta a Guaratinguetá, alguns, ou para o Oeste, o “sertão desconhecido e ermo”, de Goiás e Mato Grosso, acrescentando territórios à Coroa. Um personagem (outro) a ser estudado é o da Baronesa, a do Solar no Largo do Carmo, que fez fortuna vendendo sal aos mineiros, e recebendo em ouro! Antonil de novo acertando.

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