sábado, 14 de janeiro de 2012

Sexta, 13

O inacreditável forro do teto
Guardei a sexta-feira, 13, em respeito aos supersticiosos, que nem eu, por exemplo (e João Guimarães Rosa). 11, 12 e 13 estive em Cordisburgo, Curvelo, Corinto e Diamantina. Em Cordisburgo, queria ver a casa (hoje Museu Casa) de JGR. Queria sentir as portas, janelas, o vento, as cores e os sons da infância de Joãozito. A casa, reformada, claro, preserva a aparência que tinha na sua infância. Conheci dois "Miguilins": Laysa e Lorena, que me contaram trechos de Manuelzão e Miguilim e de Grande Sertão: Veredas. Conheci o Brasinha, Doutor Brasinha, e me senti o mais completo ignorante sobre o sertão de Guimarães Rosa, sobre o qual quero escrever uma dissertação de mestrado. Talvez em outro momento eu tente contar aqui um pouco da nossa conversa. Por exemplo, eu nunca tinha me dado conta de que nunca tinha ouvido a voz de João Guimarães Rosa. A gente proseando ali, na sua lojinha de artesanato e coisas antigas, falando sobre o hábito de João ler sentado no chão, numa posição semelhante à do budista em meditação... Os sons, a música... Porque João lia batendo no chão duas varetas, como que batucando, ou marcando um ritmo. Eu concordei com a importância dos sons em toda a obra e ele me perguntou se já havia escutado o discurso de posse na ABL. Levei um susto ou um choque e, depois de uns 10 segundos, consegui dizer: "Já li todo o JGR publicado, algumas coisas várias vezes, mas você acaba de me fazer descobrir que eu nunca ouvi a voz dele". Brasinha se levantou, sorrindo de feliz, dizendo que tinha um CD com o áudio, que não estava conpleto, que o som não era bom, mas... Que momento terrível deve ter sido para aquele homem Guimarães Rosa tomar posse na Academia. Eu sabia isso por ouvir dizer, por leituras, pelas palavras escritas pelo próprio autor, mas nada se compara ao som daquela voz, trêmula, angustiada, o desespero de saber o que viria depois está no som daquela voz. Ele me deixou fazer uma cópia, que trouxe comigo.

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