terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Ignorância

Seu Manoel, eu só quero meu cigarro
Que, diga-se, sou eu que pago
Por ele, pelas consequências dele,
As inconsequências minhas.
Obrigado por me lembrar do que eu nunca esqueci.

Seu Manoel,  dê logo meus direitos
Que, diga-se, tenho pressa e preciso deles:
Que por eles também pago
Bem caro, eu sei.
Obrigado por me ensinar o que eu já sabia.

Seu Manoel, seu Manoel, oh, seu Manoel,
Tenha a piedade humana de sair da minha frente:
Possuo um coração bom, mas não me deixo coçar.
É tradição de família, o senhor há de entender.
E esse balcão faz uma diferença danada.

Seu Manoel, outro obséquio,
Que, com louvação aos santos, peço:
Informa a todo ser, humano, pedra, bicho, planta, fantasmas...
Que eu reduzo tudo. Anulo tudo . Cancelo tudo.
Única existência que tenham sendo aquela dada por mim.

Esse sou eu.

Muros falam, seu Manoel?
Então: comigo sim, horas e horas...
O senhor sabe da noite, Seu Manoel?
Então: o que há de luz em mim é dela que sai, seu Manoel.
Canto ancestral de grandes profundezas.

Não espere a luz para ver o dia, seu Manoel...
Eu só quero meu cigarro.

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