sábado, 7 de abril de 2012

"Cidade acaba com o sertão. Acaba?"


Creio não haver dúvida, em GS:V, de que Riobaldo fala exato. “Eu não esperdiço palavras” (prefácio de Tutaméia e Riobaldo). A diferença é de nível. A gradação, de um lado, (Riobaldo se mostra inteiro, coitado, pelas mãos hábeis de seu criador) e a crítica da razão, de outro, (o autor tem consciência das forças que não controla). A tradução do “alto original” será apenas uma tentativa entre muitas, com o ego muito bem informado de suas fragilidades diante do mistério: “viver é um negócio muito perigoso” (GS:V).
A manifestação de Riobaldo aparece de maneira muito semelhante daquela que se vê nos grandes personagens da literatura em qualquer língua porque toca as formas simples. A mudança, o novo, é o deslocamento dessa manifestação para o interior do mato, para a fala de um jagunço. Ainda não está descartada a hipótese de reescrita, de retradução de sua fala pelo ouvinte-senhor. Resumo: homem culto se desdobra em ouvinte de um sertanejo para, primeiro, ouvi-lo, e, depois, contar a estória do ponto de vista daquele de quem a ouviu. Há mesmo muitos riscos a correr em casos assim.

A  “cidade acaba com o sertão. Acaba?” (Riobaldo, no GS:V)

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