terça-feira, 17 de abril de 2012

A Liberdade em Minas V



ROMANCE XXXIII OU
DO CIGANO QUE VIU O ALFERES

Não vale muito, o rosilho:
mas o homem que vem montado,
embora venha sorrindo,
traz sinal de desgraçado.
Parece vir perseguido,
sem que se veja soldado;
deixou marcas no caminho
como de homem algemado.
Fala e pensa como um vivo,
mas deve estar condenado.
Tem qualquer coisa no juízo,
mas sem ser um desvairado.

A estrela do seu destino
leva o desenho estropiado:
metade com grande brilho,
a outra, de brilho nublado;
quanto mais fica um, sombrio,
mais se ilumina o outro lado.

Duvido muito, duvido
que se deslinde o seu fado.
Vejo que vai ser ferido
e vai ser glorificado:
ao mesmo tempo, sozinho,
e de multidões cercado;
correndo grande perigo,
e de repente elevado:
ou sobre um astro divino
ou num poste de enforcado.

No rosilho vem montado.
Mas, atrás dele, o inimigo
cavalga em sombra, calado.
Vejo, no alto, o fel e o espinho
e a mão do Crucificado.

Ah! cavaleiro perdido,
sem ter culpa nem pecado...
- Pobre de quem teve um filho
pela sorte assinalado!
Vem galopando e sorrindo,
como quem traz um recado.
Não que o traga por escrito:
mas dentro em si: - consumado.

2 comentários:

  1. Conheço esse beco não sei de onde. Talvez depois até me lembre.

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    Respostas
    1. Anabela,
      eu digo logo, você vai se lembrar daqui a pouco mesmo: Rua Santo Antônio, nos fundos da Igreja do Rosário de SJDR. As casas "tortas". Vê-se um pedacinho da Lira Sanjoanense.
      Obrigado pela visita.
      Abraço.
      Gilson.

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