Foi Antonio Candido que profetizou, em texto de 1957, portanto no calor da hora, se sabemos que o livro foi publicado um ano antes: “Na extraordinária obra-prima Grande sertão: veredas há de tudo para quem souber ler, e nela tudo é forte, belo, impecavelmente realizado”. Alguém sabe ler? Parece que sim, e o que temos hoje é um labirinto na recepção da obra, que talvez reflita o do próprio texto. Bolle agrupa essas tendências de leitura em cinco grandes segmentos, como já mencionei aqui. Para este último, duas polarizaram a interpretação: uma, sociológica, histórica e política (cujo pioneiro talvez seja o próprio Prof. Antonio Candido) que alcançou alturas com Walnice Galvão, Heloisa Starling e mesmo Bolle; a outra, esotérica, mitológica e metafísica (talvez na linha interpretativa pioneira de M. Cavalcanti Proença, também em texto de 1957 e anterior a Candido), apresenta suas maiores contribuições com Consuelo Albergaria, Francis Utéza, Kathrin H. Rosenfield e Heloísa Vilhena de Araújo. Bolle ainda aponta outros paradigmas interpretativos, como os “estudos linguísticos e estilísticos”, de “compilações lexicais”, os estudos “de estrutura , composição e gênero”, a “crítica genética”, os estudos “onomásticos”, “bibliográficos”, “folclorísticos” e “cartográficos”.
Volta-se sempre ao mestre Candido: cada um a seu gosto, “conforme seu ofício” faz sua abordagem da obra. Lembra-nos Antonio Candido, que Grande sertão: veredas possui um “caráter de invenção baseada num ponto de partida em que tudo estivesse no primórdio absoluto, na esfera do puro potencial”. Em seguida, Candido faz referência à música: “lembrei a posição de Bela Bartók, forjando um estilo erudito, refinadíssimo, a partir de material folclórico, recolhido em abundância e, depois, elaborado de maneira a dar a impressão que o compositor se havia posto no nascedouro da inspiração do povo, para abrir um caminho que permite chegar à expressão universal”.
Referências: Antonio Candido: “ O homem dos avessos”; M. Cavalcanti Proença: “Alguns aspectos formais em Grande sertão: veredas”; Willi Bolle: “Grandesertão.br”.
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