domingo, 27 de maio de 2012

Muitas Minas Gerais II



Perguntado sobre suas origens e suas fontes, pelo jornalista alemão Günter Lorenz, João Guimarães Rosa teria assim se manifestado:

“[Você chamou-me ‘o homem do sertão’]. Nada tenho em contrário, pois sou um sertanejo e acho maravilhoso que você deduzisse isso lendo meus livros, porque significa que você os entendeu. Se você me chama de ‘o homem do sertão’ (e eu realmente me considero como tal), e queremos conversar sobre este homem, já estão tocados no fundo os outros pontos. É que eu sou antes de mais nada este ‘homem do sertão’; e isto não é apenas uma afirmação biográfica, mas também, e nisto pelo menos eu acredito tão firmemente como você, que ele, esse ‘homem do sertão’, está presente como ponto de partida mais do que qualquer outra coisa.

“(...) Devo dizer-lhe que nasci em Cordisburgo, uma cidadezinha não muito interessante, mas para mim sim, de muita importância. Além disso, em Minas Gerais; sou mineiro. E isto sim é o importante, pois quando escrevo, sempre me sinto transportado para esse mundo. Cordisburgo. Não acha que soa como algo muito distante? Sabe também que uma parte de minha família é, pelo sobrenome, de origem portuguesa, mas na realidade é um sobrenome suevo que na época das migrações era Guimaranes, nome que também designava a capital de um estado suevo na Lusitânia? Portanto, pela minha origem, estou voltado para o remoto, o estranho. Você certamente conhece a história dos suevos. Foi um povo que, como os celtas, emigrou para todos os lugares sem poder lançar raízes em nenhum. Este destino, que foi tão intensamente transmitido a Portugal, talvez tenha sido o culpado por meus antepassados se apegarem com tanto desespero àquele pedaço de terra que se chama o sertão. E eu também estou apegado a ele... (...) Para nós, apenas um mundo pequeno, medido segundo nossos conceitos geográficos. E este pequeno mundo do sertão, este mundo original e cheio de contrastes, é para mim o símbolo, diria mesmo o modelo de meu universo. Assim, o Cordisburgo germânico, fundado por alemães, é o coração do meu império servo-latino.”

Em Gênova, em 1965.

2 comentários:

  1. Cheguei aqui pesquisando sobre o "Método Formal" e quando vi, estava lendo os vários posts.

    Já virei seguidora,

    Abraço do Pedra do Sertão

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    1. Está vendo? O Estruturalismo/Formalismo ainda serve para alguma coisa...
      Pedra do Sertão, que bom que veio, que ficou. Volte sempre, para honra deste "espaço imaginário" que, é preciso dizer: desculpa, de formal e de método tem quase nada. Aqui se pensa em Mitodologia, mas a gente não escapa das estruturas.
      Abraço.
      Gilson.

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